
O baleado, por muito tempo, foi considerado uma brincadeira de criança. Porém, nos últimos anos, vem se consolidando como um esporte de alto nível, com um cenário competitivo forte. É o que mostra a equipe feirense Bad Girls, criada há pouco mais de três anos e que já se tornou um verdadeiro sucesso nas quadras. Atualmente, é bicampeã baiana e também um fenômeno nas redes sociais, com mais de 200 mil seguidores.
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O Portal MASSA! foi até um treinamento da equipe para entender o segredo do sucesso e saber mais sobre esse esporte que vem crescendo no cenário nacional. Um dos criadores da equipe, Janilson Souza, explicou que a intenção, desde o início, foi formar um time competitivo, mesmo sem muita estrutura, apostando no recrutamento de atletas que já vinham se destacando no cenário.
“O projeto começou comigo e com Jeferson. Eu e ele… Ele era técnico de um outro time. Só que ele saiu desse time, mas como gostava bastante do baleado e a gente conhecia algumas meninas, eu pensei: ‘Bora formar uma equipe’. Isso foi há uns três anos. Aí ele falou: ‘Vamos formar a equipe?’. Eu disse: ‘Bora!’. Como ele já conhecia algumas meninas que estavam paradas, que não faziam parte de nenhuma equipe, e outras que já eram do time que ele treinava, ele fez o convite e assim iniciamos. No começo, tínhamos só umas seis meninas. A gente treinava em espaço aberto, sem quadra, sem piso, nada”, contou Janilson.
Já o treinador Jeferson Freitas explicou que o grande segredo para se tornar uma equipe forte no cenário competitivo é a união entre as atletas e a comissão técnica. “Sem a união, a gente não seria tão competitivo como somos hoje. A gente pode até dar umas estranhadinhas, como qualquer outra equipe, mas quando estamos em quadra, é uma por todas. É literalmente uma família. Essa união faz com que a gente goste de competir e ganhar”, garantiu o ambicioso treinador.

Jeferson também destacou que, além de uma equipe competitiva, as Bad Girls surgiram como uma forma de acolher meninas que passam por diversas dificuldades. “A gente iniciou o time pensando em tirar as meninas de casa, sair do sedentarismo. Muitas passam por problemas mentais, ansiedade e outros fatores. A gente não sabia a proporção que isso ia tomar, mas hoje recebemos inúmeros relatos. As Bad Girls deixaram de ser apenas um time de competição e se tornaram também um time acolhedor”, destacou.
Sobra talento, falta grana
As Bad Girls são um verdadeiro sucesso no cenário estadual. Atuais bicampeãs baianas, a equipe já participou de torneios na Paraíba e em outros estados, além de receber diversos convites para amistosos com times do Sul e Sudeste.
Mas, apesar de todo sucesso nas quadras, as Bad Girls ainda sofrem com a falta de patrocinadores. Segundo Janilson, o time se mantém e consegue custear viagens graças a alguns apoiadores, que surgiram com a visibilidade nas redes sociais.
“A visibilidade é pouca, mas no nosso caso conseguimos uma projeção muito grande, principalmente nas redes sociais, que hoje são a maior fonte de informação. Com isso, algumas empresas chegaram até a gente para apoiar. E precisa bastante — material de treino, uniformes e tudo mais —, mas hoje estamos aqui graças aos poucos, mas valiosos apoiadores”, enfatizou.

Outra forma de manter o time competitivo são as premiações recebidas graças à boa fase da equipe. “A gente joga alguns campeonatos e a maioria tem premiação. Esse dinheiro já vira recurso para o time, principalmente para custear viagens. Normalmente não são todas em Feira, tem em Salvador, Jacobina, Ilhéus”, garantiu.
Fenômeno nas redes
Se não bastassem os títulos, as Bad Girls também se tornaram pioneiras nas redes sociais, dando grande visibilidade ao esporte. Atualmente, a equipe soma mais de 147 mil seguidores no Instagram e 140 mil no TikTok — mais que muitos times tradicionais de futebol.
Desde o início, quem comanda as redes é Janilson. Ele conta que não esperava tanto sucesso, mas percebeu o potencial de um campo que as outras equipes ainda não exploravam.
“Quando criamos o time, as equipes que já existiam não faziam marketing. Não tinham vídeos de treino, nada organizado. Desde o início, eu gravava os treinos e postava. Um dia postei no TikTok e viralizou. A partir daí, nunca parei. Mantive a constância e isso trouxe mais seguidores, visualizações e, claro, visibilidade para a equipe”, revelou.
A importância do baleado na vida das meninas
As Bad Girls também pretendem se transformar em um projeto social, para que o baleado seja agente transformador contra a vulnerabilidade e a desigualdade social. Para Janilson, o esporte tem o poder de impactar positivamente a vida das pessoas.
“Estamos com o projeto de transformar o time em um projeto social. Queremos deixar claro que é um projeto acessível, que todas as idades e pessoas podem participar. Hoje, todo mundo tem a necessidade de se sentir pertencente a algum grupo — seja religioso, esportivo — e quando você se sente acolhido, enfrenta as dificuldades com apoio. Esse é o maior propósito do projeto”, explicou.
É o caso de Milena Serafim, uma das veteranas da equipe. A atleta revela que é uma inspiração fazer parte das Bad Girls, referência no cenário estadual e, por que não, nacional.
Eu vejo como uma inspiração. Na minha opinião, o baleado nunca foi tão visto como depois das Bad Girls. Graças a isso, o esporte está sendo reconhecido não só na Bahia, mas no Brasil. As Bad Girls são referência. Meu objetivo é ajudar a equipe e motivar outras meninas a entrarem no esporte. É um esporte muito bom, onde a gente se distrai, tem motivação, incentivo — inclusive do nosso técnico, dentro e fora de quadra. Na minha opinião, é o melhor esporte que existe
Milena Serafim, atleta das Bad Girls
As Bad Girls treinam atualmente na Rua Pelé, s/n, próximo à Igreja Nossa Senhora das Graças, na Cidade Nova. Vale destacar que os treinos são totalmente gratuitos, basta disposição para participar.