
O número de pessoas fumantes no Brasil tem ascendido um sinal de alerta para os especialistas. Em 20 anos, pela primeira vez houve um aumento na quantidade de adultos fumantes nas capitais brasileiras.
Uma pesquisa preliminar divulgada pelo Ministério da Saúde mostra que o número de usuários saltou de 9,3% em 2023 para 11,6% no ano passado. Os dados representam um crescimento de 25% em apenas um ano.
De acordo com dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), cerca de 7% da população adulta em Salvador é fumante. O perfil traçado mostra que os homens são maioria com 9,6 % de usuários, enquanto as mulheres aparecem com 5%.
Para o pneumologista Guilhardo Ribeiro, os novos produtos como o cigarro eletrônico têm sido uma porta de entrada para o tabagismo ainda mais cedo, e que a situação deve ser encarada como um problema de saúde pública.
“No passado, era o cigarro tradicional, que caiu em descrédito, as pessoas têm certo preconceito. Aí surgiu o cigarro eletrônico direcionado para a criança, um sabor diversificado, com aroma diversificado, mais de mil, 10 mil sabores, e o design extremamente arrojado, porque tem caneta, tem pen drive, tem chaveiros, tudo isso seduz as crianças”, afirma em entrevista ao MASSA!.

A enfermeira referência da atração técnica de doenças crônicas não transmissíveis da subcoordenação de cuidados transversais em saúde da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Manuela Maciel, aponta a desigualdade social como fator diferencial em alguns casos.
A prevalência do tabagismo reduz à medida que aumenta o nível de escolaridade, o que indica uma relação entre o consumo de produtos derivados do tabaco e fatores socioeconômicos e educacionais
Manuela Maciel, enfermeira
Para acolher e cuidar dessas pessoas, a SMS disponibiliza tratamento gratuito em 74 unidades da Atenção Primária à Saúde (APS). O tratamento segue as diretrizes do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT).
Sem 'fumo' no futuro
As doenças causadas pelo cigarro podem ser consideradas fatais. O médico também ressalta que o problema mais letal na saúde dos homens, câncer no pulmão, é causado pelo tabagismo.
“Mas o tabagismo está intimamente relacionado com 50 doenças, tabaco relacionado, doença respiratória, entre elas, agravamento da asma, surgimento de doença pulmonar obstrutiva crônica, que a gente chama de DPOC, no passado era conhecido como bronquite, enfisema, e fragiliza o pulmão e fragiliza o indivíduo como um todo. Ele está muito predisposto a doenças cardiovasculares”, explica Guilhardo.
Acesso ao tratamento
Quem quiser ter acesso ao tratamento, basta seguir até uma unidade de saúde mais próxima e pegar todas informações necessárias para se inscrever no programa da prefeitura. Manuela detalha como funciona o passo a passo para quem quer se ver livre do cigarro.
“Após a inscrição, o paciente passa por uma entrevista de avaliação (anamnese), onde são analisados o grau de dependência à nicotina e o nível de motivação para a cessação. Com base nessa avaliação, é elaborado um plano terapêutico individualizado, que pode incluir o uso de terapia de reposição de nicotina (como adesivos) e medicamentos, quando necessário”, inicia.
A enfermeira acrescenta que grupos de apoio agem para ajudar o paciente na mudança dos hábitos.
“O tratamento é conduzido por meio de grupos de apoio com abordagem cognitivo-comportamental, que contam com sessões intensivas semanais e sessões de manutenção mensais ao longo de um ano. Essas atividades têm como objetivo fortalecer aspectos comportamentais e sociais relacionados à mudança de hábito e apoiar o participante durante todo o processo de abandono do tabaco”, completa Maciel.
Decisão de largar o cigarro
Muitas pessoas conhecem o cigarro ainda na juventude e faz dele uma espécie de ‘parceiro’ por muitos anos. Francisco Vargas dos Santos, 66 anos, revela que deu um trago pela primeira vez na adolescência.
“Comecei a fumar com cerca de 15 anos, naquela época era 'charmoso e elegante' o ato de fumar. Na minha casa, pai e mãe eram fumantes e, carteiras de cigarro ficavam expostas ao lado da televisão, mesinha de centro da sala, etc”, relembra em contato com o MASSA!.
Adicione à propaganda em rádio e televisão de maneira massiva, daí, foi um pulo para que praticamente toda aquela geração adquirisse o hábito de fumar
Francisco Vargas dos Santos
Ao todo, foram 50 anos fumando cigarro todos os dias. Agora, ele reconhece que a ‘boa sensação’ de dar uma ‘tapa’ passa ao longo dos anos e traz prejuízos em diversas áreas da vida.
“Seu uso envelhece o corpo e seus órgãos, tira a sua resistência física, estraga seus dentes e ainda lhe dá prejuízo financeiro. Resolvi parar porque senti os efeitos perversos do fumo na minha qualidade de vida”, afirma Francisco.
Nova pesquisa em breve
Em contato com o MASSA! o Ministério da Saúde revelou, com exclusividade, que uma nova pesquisa já está em andamento com os dados de pessoas adultas fumantes no Brasil em 2025. O relatório ainda não tem data para ser divulgado.
