Dois municípios baianos, Tremedal e Novo Horizonte, estão no centro de um estudo pioneiro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Bahia que busca validar o uso de um teste rápido para a doença de Chagas em campo.
A iniciativa, parte do projeto Oxente Chagas Bahia, tem como objetivo principal facilitar o diagnóstico precoce em áreas endêmicas, ampliando o acesso da população ao rastreamento da doença.
O projeto está promovendo mutirões de testagem em comunidades rurais e áreas de difícil acesso, como a Vila dos Remédios, em Novo Horizonte. As ações evitam sobrecarregar as unidades básicas de saúde, que já possuem fluxos estabelecidos para outros diagnósticos.
Durante os mutirões, promovidos pelas equipes do projeto, moradores podem realizar a triagem em até 15 minutos, sem a necessidade de deslocamento até laboratórios em grandes cidades.
Caso o resultado inicial seja positivo, ele é confirmado posteriormente em laboratório. Pacientes elegíveis para tratamento serão acompanhados por até três anos, com exames periódicos para monitorar sua condição clínica e garantir melhores desfechos de saúde.
Escolha dos municípios
Os dois municípios foram escolhidos por sua relevância histórica no enfrentamento da doença de Chagas. Tremedal e Novo Horizonte foram os últimos focos do Triatoma infestans, inseto vetor da doença, no Brasil.
A espécie, introduzida pela fronteira com a Argentina, foi eliminada quase completamente no país, mas casos silenciosos da doença ainda persistem nessas localidades, possivelmente por transmissão de outras espécies de barbeiros.
Impacto positivo na saúde pública
Atualmente, o diagnóstico da doença de Chagas é complexo e exige a coleta de sangue para análise em laboratórios equipados, o que dificulta o acesso em áreas rurais. A implantação do teste rápido na atenção básica promete mudar esse cenário.
Com a possibilidade de obter resultados em 15 minutos, o novo método reduz custos, elimina barreiras de acesso e permite que moradores de regiões afastadas sejam diagnosticados e tratados mais rapidamente.
“A gente reduz o obstáculo de acesso que esses indivíduos têm para conhecer o seu estado sorológico e, dessa forma, possibilita um tratamento precoce e uma melhoria na qualidade de vida" avalia o pesquisador Fred Santos, que coordena o projeto. Então, para o Brasil, isso vai reduzir custos na saúde pública, porque, se identificamos o indivíduo precocemente e tratamos, ele não evolui para a forma debilitante, o que não acarreta tantos custos ao sistema ”, defende.
Reflexos na prática da saúde básica
Profissionais envolvidos no projeto também destacam o impacto humano da iniciativa. Para Felipe Jesus, biomédico e recrutador do Oxente Chagas, a experiência no campo é enriquecedora.
“Viver essa realidade ajuda a entender melhor as necessidades da população. O cidadão brasileiro precisa de mais atenção, principalmente na saúde básica”, disse ele, ressaltando a importância do trabalho na promoção de saúde em comunidades vulneráveis.
Futuro no SUS
O teste, desenvolvido pela Fiocruz em parceria com Bio-Manguinhos e aprovado pela Anvisa, ainda não foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Para que isso aconteça, são necessários estudos de impacto orçamentário, custo-efetividade e validação em campo, todos conduzidos no âmbito do projeto.
"A gente precisa fazer a validação do teste rápido em campo, precisa fazer um estudo de impacto do orçamento e de custo-efetividade. Esses três estudos já estão em andamento com o Oxente Chagas", explicou Fred.
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